quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Exercício dos Dons e Ministérios e a Prática Dialógica Como Agentes de Libertação


Washington Cruz

Porém vocês não devem ser chamados de “mestre”, pois todos vocês são membros de uma mesma família e têm somente um Mestre. E aqui na terra não chamem ninguém de pai [padre/pastor][1] porque vocês têm somente um Pai, que está no céu.  Vocês não devem também ser chamados de “líderes” porque vocês têm um líder, o Messias. Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros. (MT 23:8-12)
Aparentemente este trecho do evangelho choca-se em contradição com os ensinamentos do apóstolo Paulo e até mesmo do próprio Cristo: Jo 21:17. Assim como Jesus delega a Pedro a função de pastor, o apóstolo Paulo nos exorta (a Igreja) a exercermos todos os ministérios e dons do Espírito, inclusive o de pastor, doutor, presbítero (líder) ou mestre (professor) (Ef 4:11; 1Co 12:7-11), para sermos um corpo bem ajustado (Ef 4:16), exercendo todos os dons e ministérios dado a cada membro do corpo conforme o Espírito de Deus quer (1Co 12:11). Mas afinal o que Jesus quis dizer com as palavras acima citadas?
Antes de responder a esta pergunta vamos analisar como se dá a distribuição e a prática de ministérios nas diversas instituições cristãs[2]. Não é incomum vermos os líderes eclesiástico distribuindo os dons e ministérios aos membros, pois a estrutura da atual igreja é formada de maneira empresarial, onde o presidente é o pastor, os diretores são os presbíteros, os supervisores são os diáconos, os vendedores os evangelistas e os clientes o povo! Logo, quem decide o que cada um irá fazer dentro da empresa é o presidente; mas a desculpa para tal distorção é a seguinte: somente o presidente da empresa tem capacidade para discernir o que cada um pode ou não fazer dentro da empresa, ele é o único detentor do poder do Espírito Santo e somente ele sabe quem está apto para a obra, pois ele é “o ungido de Deus”.
Não quero com isto desconstruir a ordem, a decência, a cautela ou o zelo dos pastores pelas ovelhas, mas quero questionar a estrutura corrompida que se tornou as instituições cristãs. O grande inimigo da igualdade entre os cristãos é o “monólogo” ou a “educação bancária”[3]. Na educação bancária existem um depositante de informações e os depositários, que recebem a informação sem poderem questioná-la ou “problematizá-la”[4] para tornar, assim, a educação um diálogo. O diálogo é o modelo bíblico para a igreja, pois a raiz da palavra igreja é Ekklesia, palavra grega que significa assembléia que, por conseguinte, significa uma reunião de cidadãos para discutir assuntos de estado[5]. A designação que o próprio Jesus usou para a reunião dos santos foi Ekklesia, ou seja: Assembléia de Cristo, a reunião dos santos para discutir assuntos do Reino de Deus; pois Ele próprio sempre exerceu o diálogo com seus interlocutores. Então quem melhor para saber qual o seu dom ou ministério do que a própria pessoa que o recebe, discernindo, assim, o seu dom ou ministério através de uma assembléia, onde todos podem dar sua opinião a respeito do assunto?
Logo, o que Jesus quis dizer no texto de Mateus 23:8-12 é que cada membro da igreja tem um ministério e dom, mas nenhum está acima do outro, mas cada um coopera com o outro para o perfeito andamento da Igreja de Cristo.
         Como já foi citado, o grande inimigo da igualdade entre os cristãos é o “monólogo”, e este acontece justamente pela falta do exercício pleno dos dons e ministérios. Há uma deficiência na igreja, principalmente dos ministérios de profetas, mestres, doutores e do dom da palavra de ciência. A profecia tem sido confundida com o “dom da revelação”. Analisando profundamente as profecias bíblicas podemos perceber que ela tem um caráter de denúncia do pecado, juízo de Deus sobre o pecador ou à nação pecadora e, por final, a recompensa de Deus caso haja arrependimento do pecador.  


[1] Tanto a palavra “pater” ou “padre” que vem do grego e latim significa “pai”, como “pastor” que significa “pai e guia das ovelhas” ou “aquele que guia e alimenta”, pois este é o papel do pai; têm aqui o mesmo significado. N.A. – referência: Dicionário Vine, Ed. CPAD, pg.843,844 e 856
[2] Washington Cruz, “A Verdadeira Igreja”, Jornal O Semeador ano III – Ed. 42 – 8 de julho de 2009, pg 13
[3] Paulo Freire – “Pedagogia do Oprimido”, Ed. Paz e Terra (Paulo Freire foi membro do conselho mundial de igrejas em Genebra.)
[4] Idem
[5] Dicionário Vine, Ed. CPAD, pg 419; Atos 19:39

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